Porque não perder o crescimento do mercado de capitais

Por Gabriel Fiori
Sócio Fundador da SOWER PARTNERS
Publicado em 11 de Novembro de 2020

A reflexão predominante no mundo das finanças, em um Brasil pré pandemia, foi sobre como a queda histórica da Selic trouxe o pequeno investidor para a Bolsa, algo que pode ser apenas a faísca de uma mudança maior do que podemos apalpar em um primeiro momento.

E a despeito do que difundem por trás do discurso panfletário pró renda variável, a renda fixa não se tornou figurante nem tampouco está próxima de sair de cena em favor do protagonismo do mercado de renda variável. O fato é que, com maior informação disponível e, principalmente, mais interesse das pessoas por finanças, as pessoas estão mais bem munidas de conhecimento acerca dos instrumentos financeiros – e não só ações.

Prova disso é que só em 2019, o aumento nas emissões de debêntures foi de 59% em relação ao ano anterior, totalizando vultosos R$ 396,1 bilhões. Mais assustador ainda foi o crescimento das emissões de CRI em 2019, 138% acima do ano de 2018. O mais interessante disso tudo é que mesmo em 2020 - ano que dispensa qualquer descrição da crise já conhecida por todos – o movimento em direção às emissões no mercado de capitais continua intenso.

Através de uma emissão de debêntures, por exemplo, o emissor consegue alcançar valores impossíveis – ou inviáveis em termos de juros - no mercado de crédito tradicional e ao mesmo tempo dispensando uma “dor de cabeça” equivalente à do IPO (abertura de capital, para os não iniciados no assunto). Ao encontrar uma empresa de assessoria nesse tipo de emissão, toda a parte dispendiosa é realizada por ela e outros prestadores de serviço envolvidos, enquanto o emissor fica apenas com o ônus de honrar com o crédito da operação. Convém fazer o parêntese de que, no caso dos CRIs e CRAs, temos oficialmente como emissor a securitizadora, mas o que chamo de emissor aqui são as empresas responsáveis pelo principal risco de crédito da operação, aquelas cujo recebível foi registrado como lastro.

E quanto ao perfil desses emissores? O fato é que tem espaço para todos os setores e tipos de empresa, o mercado é bastante democrático quanto a isso. No caso dos CRIs e CRAs, existe o critério de, no primeiro caso, o lastro ser um recebível imobiliário (como o próprio nome do título propõe) e, no caso dos CRAs, um recebível do agronegócio. Enquanto isso, as debêntures são mais abrangentes, podendo ser emitidas por qualquer S/A.

Não obstante, quem lê jornal ou acompanha veículos de informação sabe que “ESG” é a sigla da vez. Trata-se do olhar crescente para questões ambientais, sociais e de Governança (Environmental, Social and Corporate Governance). Quem preza pela longevidade de seu negócio já entendeu que não pode negligenciar tendências como essa. Se um dia o investidor visou apenas o retorno financeiro do investimento, hoje observamos um movimento diferente não só de sua parte, mas de todos os stakeholders. Ocorre que não basta mais garantir o crédito, é preciso agregar valor para a sociedade com a atividade desenvolvida.

Além disso, as emissões de títulos de renda fixa podem ser uma porta de entrada para a negociação pública de ações. Isso porque começando com uma debênture, por exemplo, sua empresa já se torna conhecida e passa a construir confiança – palavra-chave para aqueles que pensam grande. Desde o mercado de crédito, sabemos que a desconfiança é um risco, e o risco aumenta o custo do dinheiro. O mesmo movimento acontece no Mercado de Capitais, onde você é avaliado não só antes da operação como nos pós.

Para esclarecer: em um momento anterior você é avaliado para definir as características da emissão e talvez daquela que é mais importante para você – a taxa; o que acontece no mercado de capitais é que mesmo após a emissão, o seu papel continua sendo avaliado no mercado pelos investidores (se ainda em condições de alienação). É por esse caminho que a história que você conta através do tempo que passa honrando o título emitido tem algo a sinalizar sobre sua empresa.

Ainda que você não almeje para sua empresa a abertura de capital na posteridade, uma emissão de dívida, seja ela pública ou privada, é capaz de gerar valor. Essa forma de captação de recursos chama atenção para pontos como a estrutura de capital da empresa e a direção para a qual caminha. De modo teórico, existe uma estrutura de capital ótima, e disso podemos extrair que é necessário ter uma ponderação entre o capital próprio e o capital de terceiros, o que apoia as emissões de dívidas. Por outro prisma, se a empresa tenta captar recursos logo surge a questão de qual seria o destino desse montante. Captar para crescer também é uma forma de apontar para a geração de valor – para os funcionários, para os fornecedores, para a região de atuação e, é claro, para o acionista.

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